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quinta-feira, 21 de julho de 2011

- O pó!

Já se encontrava queimando todos os destroços daquele acidente, aquele terrível acidente. Queimava a poucos metros de mim, e exatamente por isso o cheiro forte da fumaça que exalava, ainda conseguia ter algum significado no meu presente.

Achei que aqueles destroços ia ficar pegando fogo ainda por algum tempo, achei que por ser tamanha a quantidade dos destroços e pela força que foi o acidente, o queimar dele duraria muito. Até que foi muita fumaça, muito tempo pra acabar a queima, mas inesperadamente a fumaça foi se esvaindo pelo ar, a visão foi ficando clara e daí o que veio aparecer no momento foi às cinzas, o pó. O pó era a única certeza do que sobraria daquele acidente, mas mesmo sabendo disso, é extremamente estranho ir até o local, e não ter nada palpável no mesmo. É difícil, pois ninguém sobreviveu após esse acidente; duas pessoas naquela viagem, e nenhuma vida mais existindo. Talvez virar pó junto com os destroços daquela aeronave foi realmente o melhor, pois do que adiantaria sobreviver e continuar a vida cheia de seqüelas, dores, lembranças de todo o acidente? Certamente seria algo mais do que dolorido, seria algo que acompanharia aquelas vidas eternamente... Então, nada melhor do que apenas as lembranças de quanto foi boa a viagem, o quanto foi divertida e duradoura, embora com um fim tão trágico, com apenas o pó restando, mas tendo a certeza que foi a melhor das viagens.

Ora, mas por que a melhor viagem? Claro, foi muito boa. Mas foi a primeira; a primeira de inúmeras viagens que ainda existirá. Ainda há muitas viagens a ser observada, quiçá vividas. Com toda a certeza, ainda existirão acidentes futuros, mas esses próximos acidentes acontecerão com menos impacto. As pessoas dos futuros acidentes estarão já preparadas para qualquer eventualidade e exatamente por isso talvez seja um acidente com sobreviventes.

Eu continuo observando, e dessa vez tendo que limpar o pó que restou. Estou limpando para que o local do acidente possa ficar sem o peso do que sobrou dele, e com isso quando outros acidentes ocorrerem nesse mesmo local, não haja vestígio do acidente anterior, e assim possa cada acidente ter sua própria cinza, sem se misturar com as cinzas dos acidentes que já passou, que já virou pó...

Carla Gessanda Evangelista Gonçalves

Salvador, 05/07/2011.